Sempre a quase última.....
Casaldáliga 2011-07-17
Possivelmente seja essa, para mim,
a última romaria pé no chão.
A outra
já seria contando estrelas no seio do Pai.
De todo modo, seja a última
seja a penúltima,
eu quero dar uns conselhos.
Velho caduco tem direito de dar conselhos...
E a memória dos mártires, o sangue dos mártires,
mais do que um conselho, [é] compromisso
que conjuntamente assumimos, ou reassumimos.
São Paulo, depois de tantos dogmas que anuncia,
tantas brigas teológicas,
tantas intrigas por cultura,
dá um conselho único:
‘o que eu peço de vocês [é] que não esqueçam dos pobres;
o que eu peço de vocês [é] que não esqueçam a opção pelos pobres,
essencial ao Evangelho,
à Igreja de Jesus’.
A opção pelos pobres.
E esses pobres se concretizam nos povos indígenas,
no povo negro,
na mulher marginalizada,
nos sem-terra,
nos prisioneiros...,
nos muitos filhos e filhas de Deus
proibidos de viver
com dignidade e
com liberdade.
Eu peço também para vocês que
não esqueçam do sangue dos mártires.
Tem gente, na própria Igreja, que acha que chega de falar de mártires.
O dia que chegar de falar de mártires deveríamos apagar o Novo Testamento, fechar o rosto de Jesus.
Assumam a Romaria dos Mártires,
multipliquem a Romaria dos Mártires,
sempre,
recordemos bem,
assumindo as causas dos mártires.
Pelas causas pelas quais morreram,
nós vamos dedicar,
vamos doar, e se for preciso
morrer,
a nossa própria vida também...
E ainda uma palavra:
há muita amargura,
há muita decepção,
há muito cansaço...
Isso é heresia!
Isso é pecado!
Nós somos o povo da esperança,
o povo da Páscoa.
O outro mundo possível somos nós!
A outra Igreja possível somos nós!
Devemos fazer questão de vivermos todos cutucando,
agitando, comprometendo.
Como se cada um de nós fosse uma célula-mãe espalhando vida,
provocando vida.
A Igreja da libertação está viva ressuscitada
porque é a Igreja de Jesus.
A teologia da libertação,
a espiritualidade da libertação,
a liturgia da libertação,
a vida eclesial da libertação não é nada de fora,
é algo mui de dentro,
do próprio mistério pascal,
que é o mistério da vida de Jesus,
que é o mistério das nossas vidas.
Para todos vocês,
todas vocês,
um abraço imenso,
de muito carinho,
de muita ternura,
de um grito de esperança,
esse cantar viva a esperança que seja uma razão...
Podem nos tirar tudo,
menos a via da esperança.
Vamos repetir:
‘Podem nos tirar tudo,
menos a via da esperança!’.
Um grande abraço para vocês,
para as suas comunidades,
e a caminhada continua!
Amém, Axé, Awere, Saúde, Aleluia!”
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